domingo, abril 23, 2006

Fora da cidade

Fora da cidade envelheço devagar dando por isso. Aqui no campo sou eu e o meu corpo também, juntos no esforço de revolver a terra mesmo sem propósito. Aqui no campo sou os dedos feridos e enregelados de andar em cima das oliveiras a cortar ramos selvagens. Sou o peso saudável nas costas ao final do dia. Em suma sou do outro lado do espelho uma imagem familiar, reconhecível.

Fora da cidade sou a gestão dos silêncios. Aqui no campo, uma casa de pedra é o meu sofá onde peso cada minuto passado, devagar, como na verdade o tempo se passa. Aqui no campo estou mais próximo do que sinto; a chuva não é triste, é o meu alimento, a noite não é uma angústia, é o repouso.

1 comentário:

Luís Aguiar Santos disse...

Raspe-se um bocadinho na pele e logo vemos o camponês que somos...