
domingo, dezembro 24, 2006
segunda-feira, julho 24, 2006

Fui com a minha mãe desenhar para a esplanada e ganhei esta pérola da ilustração! Este será o primeiro da minha colecção de retratos desenhados por quem não tratar por tu um lápis. Apesar de tudo não se pode dizer que a Aurora minha mãe não tenha feito jus à minha figura. (Reparem na brancura da ameaçadora tripla de incisivos, foi um toque meu, ainda me resta algum amor próprio...)
segunda-feira, julho 03, 2006
segunda-feira, maio 29, 2006
sexta-feira, maio 05, 2006

quarta-feira, maio 03, 2006
domingo, abril 23, 2006
Fora da cidade
Fora da cidade envelheço devagar dando por isso. Aqui no campo sou eu e o meu corpo também, juntos no esforço de revolver a terra mesmo sem propósito. Aqui no campo sou os dedos feridos e enregelados de andar em cima das oliveiras a cortar ramos selvagens. Sou o peso saudável nas costas ao final do dia. Em suma sou do outro lado do espelho uma imagem familiar, reconhecível.
Fora da cidade sou a gestão dos silêncios. Aqui no campo, uma casa de pedra é o meu sofá onde peso cada minuto passado, devagar, como na verdade o tempo se passa. Aqui no campo estou mais próximo do que sinto; a chuva não é triste, é o meu alimento, a noite não é uma angústia, é o repouso.
Fora da cidade envelheço devagar dando por isso. Aqui no campo sou eu e o meu corpo também, juntos no esforço de revolver a terra mesmo sem propósito. Aqui no campo sou os dedos feridos e enregelados de andar em cima das oliveiras a cortar ramos selvagens. Sou o peso saudável nas costas ao final do dia. Em suma sou do outro lado do espelho uma imagem familiar, reconhecível.
Fora da cidade sou a gestão dos silêncios. Aqui no campo, uma casa de pedra é o meu sofá onde peso cada minuto passado, devagar, como na verdade o tempo se passa. Aqui no campo estou mais próximo do que sinto; a chuva não é triste, é o meu alimento, a noite não é uma angústia, é o repouso.
segunda-feira, abril 17, 2006
sexta-feira, março 03, 2006
"III – O segundo dia
Em cima do seu planador Alfredo olhava as gradações azuis do horizonte, pensativo. Os aventureiros têm destas coisas, lançar-se de um penhasco sem pensar o que fazer depois de aterrar. Na verdade pouco lhe interessava ver o mundo, em suma pouco lhe interessava viajar em concreto. Era voar que o apaixonava, sentir-se o menos humano possível e esquecer tudo. Absorver o mundo pictoricamente como quem se deixa dominar por uma pintura.
Estrategicamente pouco restava a fazer senão procurar outra montanha e para isso a aeronave, da forma como estava montada, era impossível de se transportar. Não foram poucas as folhas preteridas do seu caderno a ser levadas pelo vento, na tentativa de chegar a uma solução de montagem e desmontagem rápida, uma vez que este problema repetir-se-ia naturalmente.
Já solvidos os mais densos problemas e posto em prática o plano da desmontagem e transformação, de um veículo planador num outro rolante, havia que partir sem demora. Valia-lhe energeticamente os dois ovos postos pela Alice logo cedo pela manhã, ela que estava muito perto da felicidade, por um lado por se ver fora de um galinheiro, por outro por imaginar já sem dificuldade a diversidade alimentar de que supunha poder dispôr nas diferentes paragens. Isso de comer apenas milho é pouco próprio de uma galinha com o poder imaginativo de Alice, cujo interesse pela culinária recolectora ascendia já a duas gerações na sua família. E apesar de não o admitir, encontrava também nesta fase a satisfação de uma frustração antiga, a de não poder, como as rapinas que no passado a cobiçavam, cruzar os céus.
Os caminhos terrestres, é bem sabido, são sempre mais duros que os do céu, que o diga Alfredo empenhado como está em transportar literalmente cada quilograma do seu sonho, até chegar à próxima montanha. As costas lançam queixumes, os músculos rangem e protestam, mas a obstinação é a mais forte das motivações e só a escuridão pode parar, por momentos, quem não tem propriamente destino. A noite desce o pano, as pálpebras pesadas reconhecem a sua autoridade e abrem-se para dentro de outro mundo.
…
A planície é de tal forma vasta e esmagadora que os cumes lá ao fundo não passam de fracas intenções geológicas, longe de permitir uma descolagem eficiente e muito menos duradoura, ao ponto de não valer o esforço do processo de conversão mecânica encontrado. Ainda estremunhado, Alfredo prepara-se para recomeçar o seu trabalho de carregador de si próprio.
Ainda não se havia posto a caminho e já o verde plano e interminável desvenda aos poucos os luminosos pontos vermelhos das macieiras carregadas de um pomar. O sol translúcido e anguloso esfaqueia o olhar entre cada copa, e mais perto entre cada ramo. Em cima de um pequeno monte um velho casebre, provavelmente do proprietário dos terrenos, traz a Alfredo a lembrança da sua condição humana, e com esta o desejo de trocar algumas palavras, mesmo breves, com alguém, que ainda de compreensão inferior à da velha Alice, as possa também emitir. Largando tudo atrás de si, não disfarçando até um certo entusiasmo, aproximou-se da aprumada construção de madeira e chamou o da casa."
Em cima do seu planador Alfredo olhava as gradações azuis do horizonte, pensativo. Os aventureiros têm destas coisas, lançar-se de um penhasco sem pensar o que fazer depois de aterrar. Na verdade pouco lhe interessava ver o mundo, em suma pouco lhe interessava viajar em concreto. Era voar que o apaixonava, sentir-se o menos humano possível e esquecer tudo. Absorver o mundo pictoricamente como quem se deixa dominar por uma pintura.
Estrategicamente pouco restava a fazer senão procurar outra montanha e para isso a aeronave, da forma como estava montada, era impossível de se transportar. Não foram poucas as folhas preteridas do seu caderno a ser levadas pelo vento, na tentativa de chegar a uma solução de montagem e desmontagem rápida, uma vez que este problema repetir-se-ia naturalmente.
Já solvidos os mais densos problemas e posto em prática o plano da desmontagem e transformação, de um veículo planador num outro rolante, havia que partir sem demora. Valia-lhe energeticamente os dois ovos postos pela Alice logo cedo pela manhã, ela que estava muito perto da felicidade, por um lado por se ver fora de um galinheiro, por outro por imaginar já sem dificuldade a diversidade alimentar de que supunha poder dispôr nas diferentes paragens. Isso de comer apenas milho é pouco próprio de uma galinha com o poder imaginativo de Alice, cujo interesse pela culinária recolectora ascendia já a duas gerações na sua família. E apesar de não o admitir, encontrava também nesta fase a satisfação de uma frustração antiga, a de não poder, como as rapinas que no passado a cobiçavam, cruzar os céus.
Os caminhos terrestres, é bem sabido, são sempre mais duros que os do céu, que o diga Alfredo empenhado como está em transportar literalmente cada quilograma do seu sonho, até chegar à próxima montanha. As costas lançam queixumes, os músculos rangem e protestam, mas a obstinação é a mais forte das motivações e só a escuridão pode parar, por momentos, quem não tem propriamente destino. A noite desce o pano, as pálpebras pesadas reconhecem a sua autoridade e abrem-se para dentro de outro mundo.
…
A planície é de tal forma vasta e esmagadora que os cumes lá ao fundo não passam de fracas intenções geológicas, longe de permitir uma descolagem eficiente e muito menos duradoura, ao ponto de não valer o esforço do processo de conversão mecânica encontrado. Ainda estremunhado, Alfredo prepara-se para recomeçar o seu trabalho de carregador de si próprio.
Ainda não se havia posto a caminho e já o verde plano e interminável desvenda aos poucos os luminosos pontos vermelhos das macieiras carregadas de um pomar. O sol translúcido e anguloso esfaqueia o olhar entre cada copa, e mais perto entre cada ramo. Em cima de um pequeno monte um velho casebre, provavelmente do proprietário dos terrenos, traz a Alfredo a lembrança da sua condição humana, e com esta o desejo de trocar algumas palavras, mesmo breves, com alguém, que ainda de compreensão inferior à da velha Alice, as possa também emitir. Largando tudo atrás de si, não disfarçando até um certo entusiasmo, aproximou-se da aprumada construção de madeira e chamou o da casa."
segunda-feira, fevereiro 13, 2006
Hoje mudei de ideias: as manhãs não são obscenas. Acordei mais cedo do que o costume e nesta em concreto, apesar de invernal, trazia no sol de céu limpo um ambiente aconchegado, quase quente. A cor tem destas coisas, quentes e frias e os olhos enganam-nos ao ponto de lhe entregarmos como um tributo a nossa pele arrepiada. Acontece que hoje, por ser domingo, as moles humanas ficaram em casa, espalhadas nos restos nocturnos e nas camas desfeitas, deixando-me assim livres alguns quilómetros de estrada e uma certa ideia de horizontalidade na paisagem.
Hoje mudei de ideias: afinal do que eu não gosto é de plurais, gosto da humanidade, da natureza, do mar, da paisagem, desde que não se me deparem os terríveis ésses, sempre prontos a lançar a confusão e a criar uma falsa sensação de diversidade. Só por causa disso e a partir de agora, neste texto não vai haver mais ésses, acabou-e. Foram muito ano a entir coia delocada do eu próprio contexto. Afinal goto da manhã, e ela vier ózinha, erena e calma, ingular. Hoje mudei de ideia.
Hoje mudei de ideias: afinal do que eu não gosto é de plurais, gosto da humanidade, da natureza, do mar, da paisagem, desde que não se me deparem os terríveis ésses, sempre prontos a lançar a confusão e a criar uma falsa sensação de diversidade. Só por causa disso e a partir de agora, neste texto não vai haver mais ésses, acabou-e. Foram muito ano a entir coia delocada do eu próprio contexto. Afinal goto da manhã, e ela vier ózinha, erena e calma, ingular. Hoje mudei de ideia.
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